História

As Bandeiras paulistas

“No século XVII, em meio à busca pelas riquezas minerais, outras lutas eram travadas. Aumentava a concorrência mundial ao açúcar, o mais importante produto brasileiro da época. Por outro lado, Portugal acabava de se libertar de 60 anos de domínio espanhol. Tinha perdido durante esse tempo várias colônias do Oriente e uma parte das da África. A moeda portuguesa se desvalorizara para um terço do seu valor. Portugal precisava desesperadamente de ouro" (Miguel Mourão).”

“..Como forma de motivar as pesquisas, a Coroa declarou, então, que concederia a particulares a propriedade das minas descobertas e o direito de exploração, além de honrarias. Estas concessões atraíram algumas importantes famílias paulistas, que organizaram-se em "Bandeiras", à cata do eldorado.”

 “...Estava preparado, assim, o terreno para as grandes conquistas e descobertas. Os caminhos do Serro Frio para a Bahia e o Espírito Santo já eram conhecidos pelos baianos e capixabas, a partir das “Entradas” e das fazendas de gado do S. Francisco (séculos XVI e XVII). “

Aliás, a busca pelas nascentes do Rio São Francisco para explorar ouro e pedras preciosas foram frustradas, pois além de não encontrar facilmente os minerais, a extração era muito onerosa. Tal fato, contribuiu e muito para que a terra fosse cultivada e aqui estava a verdadeira riqueza: solo fértil para agricultura e pecuária. Esse fator foi preponderante para colonos, em sua maioria vindos de Portugal, se estabeleceram na região da Serra da Canastra, que há época pertencia à Comarca do Rio das Mortes.

Esses colonizadores portugueses, ao introduzirem o gado bovino, para cá trouxeram também a receita do queijo português, que deu origem aos queijos artesanais, o que leva a crer que a técnica portuguesa percorreu o caminho dos currais. 

 Á medida que se dá a expansão da pecuária, a técnica de produção artesanal do queijo é disseminada nas fazendas, especialmente para uso interno. Mas é com o declínio da mineração e a consolidação da atividade pastoril em todo o domínio dos currais – no nordeste e no sudeste, na região sob influência das jazidas localizadas na parte central -, e em particular em Minas Gerais, com a formação da bacia leiteira, já em meados do século XVIII, que surge o queijo artesanal com características hoje identificadas no chamado “Queijo Minas”. O processo, apesar de rudimentar, é adotado em escala capaz de absorver o excedente de produção de leite em regiões de difícil escoamento de gêneros perecíveis, permitindo provisão para os períodos de seca. A atividade queijeira, tal como a de exploração do charque e do couro no Sul, ganha expressão econômica autônoma e passa a substituir atividades decadentes e a competir nas economias regionais com setores de proa. (Castro Brown).

Alguns autores, porém, estabelecem o marco inicial da fabricação de queijo no país e em Minas em um período mais tardio, como Múcio Mansur Furtado:

A fabricação de queijos no Brasil é de história relativamente recente, firmando-se, do ponto de vista industrial, no início deste século (XX) e, sobretudo, a partir da década de 20, com o estabelecimento de imigrantes dinamarqueses no sul de Minas e holandeses na região de Santos Dumont e Barbacena, também em Minas Gerais.

De lá pra cá, cresceu o número de fábricas de queijos disponíveis no mercado.

A afirmação é válida relativamente à produção industrial do queijo, já que os processos artesanais estão presentes no Brasil e em Minas Gerais desde a época colonial, embora tenham sido rudimentares até o final do século XVIII. Até então, as técnicas de manejo do gado e a quantidade do rebanho ainda não asseguravam produção de leite suficiente para impulsionar investimentos na fabricação de queijos com vistas à importação.

 

Embora destinada ao abastecimento interno, a produção artesanal do queijo Minas já era significativa nas fazendas do final do século XVIII, especialmente no Sul do Estado e nos currais do São Francisco no norte e nordeste de Minas. No Sul e na Zona da Mata, a pecuária concorria com atividades agrícolas importantes, como a cultura cafeeira; desenvolvendo-se em condições climáticas e de pastagens favoráveis à produção de leite, atraiu investimentos na industrialização. Essa situação, aliada à condição de proximidade da região com o promissor centro do Rio de Janeiro, levou ao aprimoramento da atividade queijeira e à adoção de novas técnicas de produção, principalmente por meio da apropriação da experiência de dinamarqueses que se instalaram na região. (FRIERO. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros).

A industrialização de queijos no Brasil, iniciada nas primeiras décadas do século passado, foi marcada pelo pioneirismo de Minas Gerais. Por iniciativa do português Carlos Pereira de Sá Fortes, foram trazidos para a região dos atuais municípios de Santos Dumont e Barbacena dois queijeiros holandeses, a fim de que produzissem os queijos tipo Edam e Gouda. 

Embora frustradas as expectativas da produção de queijos com características idênticas às dos produzidos no país de origem, em razão das diferenças climáticas, do tipo de pastagem e da composição do insumos, vingou o propósito de incorporação das técnicas de fabricação industrial, produzindo-se um tipo de queijo de se denominou “Do Reino”, numa referência ao produtos vindos de Portugal, apesar de nacional e vinculado ao saber dos holandeses. (FURTADO. A arte e a ciência do queijo).